Relatos Extemporâneos: Adiantados e Atrasados



sexta-feira, abril 11, 2008

LOS BOLUDOS DE LA MOTOCICLETA

04.04.08 Buenos Aires

Com o show marcado para as dez, cheguei a La Trastienda por volta das oito, dei uma verificada no terreno e saí para conhecer o bairro de San Telmo, conhecido por sua extensa orla de bares, pubs, discos e botecos. Bebi as primeiras cevas portenhas, comi alguma coisinha e voltei pro clube por volta das nove. Ali já se formava uma filinha. Resgatei meu ingresso comprado via internet e tava pronto. A casa abriu pouco depois, é um lugar agradável, pequeno-mas-não-minúsculo, que cabe umas mil pessoas se tanto. Seis pesos uma lata de ceva (R$ 4,20), e isso prum lugar fechado foi até “barato”. O indie argentino é metrossexual extremo, mas as chicas são formidáveis (uma mina veio em minha direção perguntar se eu era Mathias, o que me levou a dois pensamentos. a] o de que infelizmente não e b] como raios alguém ainda marca um encontro as escuras?).

Começou as dez e cinco o show. Escuridão, introdução sonora, e o tradicional CAVEIRÃO como pano de fundo. Tascaram “Love Burns” de cara e aos cinco minutos de jogo ele tava ganho. Fiquei na frente de Peter Hayes, coisa de dois metros ou menos. Estava de cabelo todo pra trás com gel, um costeletão gigante, uma espécie de Elvis chapado de crack. Colete e botas de cowboy, e uma micro-tatuagem dessas de inscrição chinesa num dos dedos (não em cima, mas do lado do dedo). Também não tem aquele dente ao lado dos dois principais e nem o siso, ou seja, o cara é um maldito desdentado. Mas toca muito, pra caralho mesmo. Eram cinco guitarras no case e mais dois violões. Dois pedais, um deles com inacreditáveis QUINZE botões. Do outro lado, Robert Levon Been faz o estilo blasé-conquistador, sempre encarando alguma. Estava igualmente de bota cowboy, mas com casaco de couro (que mais tarde tirou, ficando só com camisa mamãe-tô-forte), seus olhos são azuis. Mais performer, ele foi até a galera, esmerilhou o baixo em posição fetal, e mais. Nick Jago, o batera, é uma CRIANÇA, parece que acabou de sair duma festinha indie paulistana. Outfit colete, colarzinho hippie e cabelinho emo-kid. Também toca muito, a jam final em “Heart and Soul” (com basicamente ele conduzindo os andamentos) foi uma das coisas mais ROCKENROLL que já vi na vida. Entre essas duas músicas eles tocaram outras vinte e duas, seis durante o bis, num show de 02h10min. Bis tocado porque ao saírem do palco os argentinos gritaram e cantaram “Ole Ole Black Rrrebel Black Rrrebel” por cinco minutos a fio. Quase tudo sai a perfeição na execução das músicas, especialmente as do primeiro, que tinham gravações um tanto pau-mole e no show saem um colosso. A introdução de baixo de “Spread Your Love” estremeceu tudo, a distorção descomunal de “Awake”, o modo magistral como Petey toca violão elétrico e gaita em “Ain’t That Easy Way”. A dupla da frente trocou de posição pela primeira vez em “American X”, onde Robert canta e toca guitarra (uma Gibson Les Paul linda, aliás) e que costuma fechar os shows. A dois metros de mim, também subiu no conceito, por sua total imersão a música. Como fechamento dum capítulo, depois seguiu espaço prum set acústico do Howl, com “Fault Line”, “Restless Sinner” (Petey tocou as duas sozinho) e “Mercy”, apaixonante, com Bob novamente na posição bem a minha frente. O clima mais intimista fechou numa versão bluesy de “666 Conducer” (bem diferente da original), pra a partir daí sentarem o pé e quebrarem geral, fechando com “Punk Song” e La Trastienda abaixo. Até ali já era um dos dez shows mais fodas que presenciei. E ainda rolou o bis. Destaque pra “All You Do is Talk” (segunda mais bonita deles), onde aquele arranjo da introdução Petey faz com um arco de violino, sublime, de chorar no canto. Como disse, fecharam com “Heart and Soul”, uma demência de rock moderno sem rótulozinho frau. Completamente empapado, a viagem tava paga. Peguei uma ceva. Só faltou alguém ali.

PÓS 1: Do lado de for a, fiquei bebendo en La Trastienda (que também é pub), e coisa de uma hora depois os caras saíram. Bateram papo, tiraram foto, tutti buona genti. Robert me viu sentado e disse que meu cabelo era muito style. Respondi que eu tinha me baseado justamente no corte dele. No que ele falou “no way, teu tá muito melhor”. Também babou por minha camiseta do MBV. Tudo bem, é mentira. Falei com ele, mas o papo foi outro (exceto quanto à parte da camisa). Quem merece saber, já sabe.

PÓS 2: O cara que me cedeu as fotos do show foi também ao Quilmes Rock, festival em que tocaram domingo no estádio do River Plate. Disse que foi (bem) mais morno. Acredito. O que vi na tenda do T in the Park foi bem melhor que MainStage em Benicàssim.

PÓS 3: Nesse dia, sintonizei uma rádio argentina pra ver qual era, uma que coincidentemente transmitia o Quilmes. Nicky dava entrevista, e perguntado sobre a diferença entre os dois shows, ele foi tácito: o show em La Trastienda foi o melhor da sua vida. Ele falava em espanhol ótimo, sua mãe é peruana (Jago, só podia). Acredito. No show, ele estava enlouquecido, na volta do bis veio pro povo, fazia aquele sinal de atirando, distribuía baquetas. Piradaço. Deve ter retomado alguns dos seus bad-habits.


SETLIST:
Love Burns
Berlin
Shuffle Your Feet
Stop
Ain't No Easy Way
Weapon Of Choice
In Like The Rose
Red Eyes And Tears
Awake
American X
Fault Line
Restless Sinner
Mercy
666 Conducer
Spread Yor Love
Need Some Air
Six Barrel Shotgun
Whatever Happened to my Rock 'n Roll?

BIS:
Took Out A Loan
All You Do Is Talk
Rifles
Steal A Ride
Salvation
Heart + Soul

postado por: mim 2:10 AM




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