Relatos Extemporâneos: Adiantados e Atrasados



sábado, janeiro 19, 2008

T IN THE PARK 2007

Saí de POA numa quinta-feira, 4 da tarde, com conexão em Buenos Aires, e chegada a Madrid na sexta-feira, em torno das duas da tarde [local]. Mofei no aeroporto até o vôo para Londres à noite, e num erro estratégico [esqueci o endereço do hotel], fiquei no aeroporto de Luton durante a madrugada, até finalmente pegar o último vôo, à Glasgow, aonde cheguei sábado, 10 da manhã. Ou seja, quase dois dias e quatro vôos depois cheguei ao Euro Hostel, na esquina da Jamaica Street com a Clyde St., bem no centro. Porém, num bizarro horário de check-in às 3 da tarde, qualquer contato com banho, descanso e soninho não seriam [e não foram] possíveis, já que os festivais no Reino Unido começam cedo, muito. Um zumbi terceiro-mundista penetrava na terra da rainha. Quer dizer, mais ou menos. Porque o escocês não é bem britânico. Eles cospem todas as palavras, e quando tu só entende o inglês ali de Canoas isso é meio que problema. Perguntei como chegar ao T in the Park pra atendente do hostel, gatinha, que fez cara de ‘ai, que brasileiro burro’ e disse no término duma frase indefinível um ‘SOLD OUT’ [bem, cuspiu]. “Eu sei que é sold out, mas tenho press acreditation, FILHA”, respondi. Além da cara de antes, agora ela parecia querer meu fígado, mas cravando a caneta no mapa, apontou onde estávamos e onde se pegava o busão. Analisei a técnica, não parecia longe. Acertei. Nada é, em Glasgow. Guardei a bagagem no “left luggage” do lugar e caí fora. Dez minutos a pé subindo a Union Street, barbadinha. Da Buchanan Bus Station até Balado, o lugar-fazenda onde rola o festival, a viagem custa 22 libras e leva uma hora e meia, em ônibus comunzão, de dois andares. Porém, tive a impressão que levou minutos, capotei em algum ombro indie. Quando acordei, um careca [exceto sua nuca, onde deixou desenhado um T com o cabelo] esmurrava o vidro de proteção onde fica o motorista gritando blasfêmias [o que já me fez entender o porque do vidro]. O cara era um troglo, não brigaria com ele, confesso. A questão é que não entendi isso [ACHO que ficou pra trás numa parada pro mijo], e nem porque as pessoas, muitas delas, usavam galochas. Clima cinzento, chuvisco [acreditem no que dizem na TV, o clima britânico é um cocô], e...BARRO. Rodopiou na minha cabeça um OH OH, de quem estava nos trinques pra passar na imigração. Tudo bem, com dois dias sem banho aquele era o lugar ideal pra mim. O lugar era só barral. Ao longe, tu só vê mato e mato. O “campsite” é um lugar encravado no meio do nada. Um nada gigante. Cheio de mato e lama. Quase vinte minutos andando até o portão de acesso a imprensa, o Y13. Leandro Vignoli, Brasil. Uma troca carinhosa de mimos com as secretárias da assessoria de imprensa [todo esse pessoal nos acham simpáticos], e no pulso, uma ‘wristband’ de media para acesso as arenas, outra de hospitality club para bordejar pelo terreno dos vip’s, e mais um cartão-passe pra área onde ficam, nós, IMPRENSA. Ráááá. Estávamos dentro. Deixou passar, agora agüenta, pensei.

Com o tênis total enlameado, bordejei pelo tal clube da hospitalidade. Várias pintas em seus computadores pessoais, tecnologia de ponta. Levei só uma máquina digital vagabunda recém comprada, e que, aliás, não soube usar direito por muito tempo. Tempo que compreende todo o T in the Park [desculpe, apertar botões não é a minha]. O bom dali mesmo eram os PETISCOS. Comi uns 50 salgadinhos, de todo tipo, nem sabia o que era só sei que comia. Alguma ceva quente a disposição também, mas decidi ficar na técnica. Caí fora embuchado e o campsite, como se percebia, é gigantesco. Um total de dois palcos ao ar livre e mais cinco tendas. Os palcos são, anote: Main Stage, pros artistas bombados nos charts; Radio 1/ NME, um lugar tão longe pra caralho de tudo que deve ser por isso que lá tocam as bandas que só indies-adolescentes curtem. Tendas são um lance de mais classe, onde valia mais a pena zuretear. Duas diagonais de fácil acesso, a Pet Sounds [porque Brian Wilson tocaria lá] e King Tut’s [hipertradicional deles, é o nome dum clube de Glasgow]. Mais ao longe a Slam Tent, pras bucetadas eletrônicas, a Scottish Water Future, para bandas novas que já se ouviu falar, e enfim a T-Break, onde só as namoradas e vizinhos das bandas viam os shows [bem, o Snow Patrol tocou lá em 97, na sua 1ª vez]. Todos com horários cronometrados a perfeição, e um som perfeito, algo incomum em festivais brasileiros. Mas no fim, todo esse lance de mais de cem bandas é pura lenda, pois é impossível ver nem um terço delas [aritmética, faz aí]. Não porque é inviável correr de lá pra cá o tempo todo. Não. É porque são no mesmo horário meeeesmo. Exemplo: domingo ou você via Snow Patrol [seu noveleiro] OU Kasabian [seu indie] OU Qotsa [seu metalêro] OU Sunshine Underground [seu cabaço] OU Damien Rice [seu bichinha]. E isso é apenas o exemplo do que fechava o festival, mas acontecia full time. Dizem que a vida é feita de escolhas, e cabe a você ser esperto pra casar com alguma mina linda e rica, não feia e pobre. Basicamente o que rola num festival como o T in The Park é isso, se é que entendem.

Esse ano foi a primeira edição dele com três dias de shows, embora na sexta-feira fosse de exclusividade pro pessoal acampado. Atualmente o festival possui o status de o principal do verão britânico, ultrapassando o tradicional Glastonbury, com ingressos esgotados um ano antes [uma leva vendida costuma acabar em minutos]. Cheguei lá no começo da tarde de sábado, com a patifaria já começada. Sem beber, só “na técnica”, resolvi analisar o contexto surreal que se formava, algo parecido com um sonho, não o de estar num festival indie gringo, mas um sonho mesmo, como se a qualquer momento eu fosse cair de cara no lodo até ser acordado noutro dia, talvez vomitado e mijado. Porque todo tipo de escória aparece num evento desses. Como idéia, naquele fim de semana, o T in The Park se torna a sexta “cidade” mais populosa da Escócia, com 80 mil pessoas. Muito, mas muito turista europeu, com italianos, espanhóis e escandinavos dominando [e turista é uma raça filhadaputa, sempre em bando, sem qualquer medida]. Ao mesmo tempo, e paradoxal, você vislumbra muitas famílias no local [pai, mãe, filho adolescente e crianças, porque o lance é mesmo um parque estilizado, com rodas-gigantes e outras formas de diversão do tipo]. Aquelas botas de borracha, costume pelo clima podre, virou moda e tem de várias cores e estilos. Outra freqüência são bandeiras agitadas de seu respectivo país, as das micro regiões escocesas em vantagem [o que não faz a segregação colonial perante um arquétipo de superpotência unida ein?]. Mas o costume mais idiota disparado é o de lançar pro alto e frente a cerveja daqueles copos de um litro [com o copo]. Também, os caras tomam aquela naba quente, desperdiçar ceva deve ser só a desculpa pra se livrar logo daquilo. Outro costume latente é o de não prestar atenção nos shows, talvez só eu mesmo me preocupasse com isso. Resultou no que vem a seguir. Escreverei na ordem em que vi os shows, inteiro ou mais da metade [e esse mais da metade pode ser por opção minha ou porque o horário fudeu geral]. Sem conhecer direito o território, a lógica do festival, e num jet lag terrível, parei no primeiro que vi. Depois mais ou menos escolhi o que me interessava. Mais ou menos, eu disse.

SÁBADO
Little Man Tate [Radio 1/Nme]
Os gurizão regurgitam ali aquele lance de garagem cheio de sotaque dos Libertines, não tocam porra nenhuma e agitam a galera. Aliás, tava escrito na batera o nome da banda. Apenas por isso pude vir aqui e dizer que vi um show do “Little Man Tate”.

James Morrison [Main Stage]
Tava caminhando e parei pra ver o show do James Blunt [demorei pra entender que não se pode parar e ver qualquer bosta]. E ainda percebi que não era o James Blunt. Ops.

Albert Hammond Jr. [Pet Sounds Arena]
O primeiro show que assisti por vontade, após consultar a programação. Abriram com “In Transit”, uma pérola de canção e todos os caras da banda, como Albert, usam cachopa e tocam muito bem. Mas o público na tenda era mediano e conheciam meramente “Back to 101”, num show que é redondaço e bem massa. No fim, há uma coisa muito louca nessa história do Strokes já ter três discos e tu chegar a conclusão que na real eles fazem boa música. Apenas uma divagação afora o show do cara, que não deixa de ser a extensão de tudo isso. Música boa, legal, mas nada genial. Pra mim tá ok.

Black Rebel Motorcycle Club [King Tut’s Wah Wah]
Um Top 3 fácil do T in the Park. Guitarras saturadas, baixo saturado, bateria um canhão, uma maravilha de Jesus & MC moderno. Cravam várias do novo, como “Berlin” e “Weapon of Choice” [puta hitzão hein], e esbravejam “Whatever Happened to My Rock N Roll” [eles e a galera], fácil um dos grandes hits “INDIE” desse século. Pelo Howl, passam de soslaio apenas em “Ain’t That Easy Way” e é também um momento magnânimo. Mas o grande case é o rockão. Quando Hayes assume o baixo e por óbvio Robert Been vai pra guita, na segunda metade do show, uma hecatombe forma-se entre as pessoas. Poderia usar a palavra CATARSE para irritar alguns. Dali saem “Love Burns”, “Spread Yr Love”, “Lie on Your Dreams” e fecham com dez minutos de “American X”. E o crânio partido no pano de fundo faz todo o sentido.

Dizzie Rascal [Slam Tent]
Tenda lotada de branquelo vestido a rapper. E esse cara, Rascal, é um baita entertainer. Notadamente meio ANALFA, domina a platéia que tá ali pra ser dominada. Etc.

Arcade Fire [Main Stage]
O show em si é ótimo. As músicas novas ao vivo, também, soam ótimas [a sensação barrigal de ver e ouvir no talo “Intervention” seguida de “Wake Up” é única]. Abrir o show com “Rebellion” é também uma garantia de público na mão. SÓ QUE, as coisas meio que se perderam com o Arcade Fire sendo grandão. Eles não são uma banda de estádio [ou palcão ao ar livre], a massa fica meio dispersa, o clima não fluiu muito ok [aquele monte de instrumento de cunho não-amplificado acaba soando bem baixinho]. De repente seja uma especulação segregacionista, preferir teatros, velas, igrejas. Ou não.

Blood Brothers [Scottish Water Future]
Conhecem Blood Brothers? Pós-hardcore barulheira com dois vocais berrando full time. Pois então, eles são a banda mais homossexual do planeta. Uma ênfase aqui. OS CARAS SÃO OS MAIS BAITOLA DO MUNDO. O vocal n° 1 chega a dizer ‘thank u’ com voz afeminada, e fazer gestinho afeminado, e ‘oh my god ui ui’. E ele nem é o MAIS bicha da banda. Porém, o show é infernal, berreiro sem igual, HC quebrado de prima [como um Fugazi menos-sério]. “Set Fire to the Face on Fire”, ao vivo, é como pagar pra ver um porco sendo carneado [horrível, mas que não se consegue tirar o olho]. Umas 100 pessoas viram o show com a concorrência de Jamie T [o herói inglês atual], e Amy Winehouse [que nunca ouvi nada]. Melhor pra mim. Pela MÚSICA, ok?

Razorlight [Main Stage]
Tudo bem que fama e sucesso nem tem a ver com qualidade. Ás vezes rola, etc. Mas o Razorlight é um EPÍSTOMO do não-merecimento. Chinfrim por demais, a banda se esconde atrás do vocalista, que é um prego. Garoto inglês rico de olho azul e dente torto que jamais pegou sequer uma vassoura na mão [e se o cara não consegue varrer o quarto como poderia ser um rock star?]. Estar ali no Main Stage não é um erro factual. Todos parecem gostar daquela bosta-yuppie-mais-vendido-na-Saraiva, a euforia era incrível e minha desilusão com o mundo idem. Resolvi comer fritas com três NACOS de galinha também frita. Poderia então dar a desculpa que vomitei não por culpa do Razorlight.

Hot Chip [Slam Tent]
Cheguei lá e tava tudo atrasadaço. Os cinco manos nerds se posicionam ali na frente dos treco de apertar botão e pronto. Tá feita a FESTA. Os caras mixam uma atrás da outra, em geral as do segundo disco. Todo mundo dança, a mulherada dança, a gayzada, os playbas, o cara com a camiseta do Celtic, a italiana più bella del T. Esses shows de neguinho apertando botão só sendo muito burro pra não enlouquecer a massa [e eles, que até tocam uma guitarrinha e MARIMBAS, enlouquecem mais]. Festival na reba, todo mundo louco, e os Hot Chip sendo fudido na lança, deusulivre que dez minutos de “Over and Over” não fosse pegar ninguém. Mudava meu nome para Maurício Renner.

Brian Wilson [Pet Sounds Arena]
Depois do PROBLEMINA ali no Hot Chip, cheguei em delay no véio que tava determinado a ver [e que me faz mandar o Killers – e a italiana – pra puta que os pariu]. Tenda cheiaça, vi bem de longe. O que perdi foda-se, sei que vi na seqüência “God Only Knows”, “Sloop John B” e “Wouldn’t Be Nice” e confesso ter tido PÍNCAROS de emoção, EMBARGOS na goela, BOLOLÓS no estômago. Depois, ou antes, rolou “Surfin USA”, “I Can Hear Music”, “Caroline, No” e vários outros momentos que o sujeito não esquece nunca, mesmo que o grande autor daquilo e o pseudo-intérprete daquilo tenha virado um velho autista. Tô nem aí. Talvez eu fique velho também.

Ainda dizem que vi no sábado: Sierra Leone’s Refugee All Stars, James, The Long Blondes, Rufus Wainright

No sábado, portanto, não vi: The Killers, Thrills, CSS, Babyshambles, Amy Winehouse, My Chemical Romance, Kooks, Jamie T, Klaxons, The View, Cold War Kids, Bright Eyes, Miss Kittin, New Young Pony Club, DJ Shadow, Hours. Percebam como mais NÃO se vê do que se vê os shows. A evacuação foi bem rápida. Peguei o ônibus de volta a Glasgow [são milhares deles] e pouco mais da meia-noite chegamos ao centrão. Só queria saber de capotar. Acordei no outro dia com um negão me intimando porque eu tinha dormido na cama destinada a ele no quarto. Pro bem de todos [principalmente o dele, afinal, sou de Canoas] troquei de quarto pros demais dias.

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Dormi. Tomei banho. Ranguei. Fiz um novo check-in, desta vez com um magrão, tão enjoadinho quanto a mina do dia anterior, e larguei até a Bus Station. Não tinha chovido [ainda] no dia, e ao chegar lá o campsite dava sinais de menos lama. A grama só estafa fofa, como se tu pisasse no feno [vão até a fazenda do tio de vocês pra saber como é]. Cheguei pouco mais cedo no horror, comecei a beber finalmente [parabéns Grã-Bretanha, agora sei que gosto tem o mijo], degustei os salgadinhos da press area, até sociabilizei com meus caros colegas jornalistas do mundo. A escória estava, deveras, potencializada [com três dias acampado no barral e tomando xixi, até que entendo]. Minha primeira escolha foi péssima mais uma vez. Vamos transformar num lema. “Começamos sempre no pior pra chegarmos no melhor”. QUEM SABE.


DOMINGUEIRA
Union Of Knives [King Tut’s Wah Wah]
A new rave faz uns filhotes horrendos. Eles põem um mano no teclado pra fazer barulho às vezes, outro no baixo repetindo um groove [pffff], e um baterista tocando sobre bate-estacas eletrônicas [ou o contrário, vá saber]. Aí completam com um vocalista de cabelo esquisito sempre enrolando até o refrão. Ah, pára velhinho. Vão ser caixa de banco.

Avril Lavigne [Main Stage]
Parei pra olhar, sim. De repente fosse engraçado, fosse uma MATÉRIA. Nada disso. Bem na real é que embora tenha esse mito de “festival indie gringo”, uma enorme galera que vai ao T in the Park freqüenta só o Main Stage, aquilo que tá nos charts. Ou seja, Avril Lavigne tinha seu público lá, cantando e sorrindo. Coisa sem graça.

Hold Steady [ Pet Sounds Arena]
Os caras têm cronometrados trinta minutos para tocar, e atrasam vinte. Implicação sem choro, nem vela: tocaram só dez minutos. Então rolou um mini-set acústico, só com baixo [acústico], uma bateria só de prato e toque, e um gaiteiro bigodudo e de boina. Mais o vocalista, um velho, com cara de professor de biologia de cursinho. Resultado: minimalismo mongolóide, que duas dúzias de fãs ardorosos assistiram. Maldade pura: são um Kings of Leon piorado. Mais maldade ainda: o Kings of Leon dos tempos ruins.

Bravery [King Tut’s Wah Wah]
Sei que acabei de avacalhar uma banda de rock n’ roll, uhúú. E que o Bravery é um lance de indie bichão. Então absorvamos os rótulos das músicas um instante e fiquemos apenas em “bom” e “ruim”. E o show do Bravery é muito bom. O guitarrista japa manda no palco, e ao vocal queixudo cabe só posar de galã. E ele faz, ah faz. Muito mais agressivo que nos álbuns [aquela coisa chocha cheio de tecladinho safado e gay], a banda não se priva em nada dessas coisas “rock”. O baixista escalou a armação do palco, para de lá arremessar o instrumento na batera. “Honest Mistake” causa euforia, MESMO, a banda pára pro povo cantar, e a seguir, manda o refrão em vários ritmos, vai no metal, vai no hardcore, e boom. Aimeodeos que meus butiá caiu do bolso tudo.

Brian Jonestown Massacre [Pet Sounds Arena]
A maior concentração de italianos que já vi desde a festa de quinze anos do meu primo, em Santo Antônio da Patrulha. Talvez Dig, o filme, tenha chegado à Itália só agora. Óbvio que o BJM carrega o estigma, mas é óbvio também que eles podem ser maiores. Um toque pop psicodélico deles revela bem mais que um Bees, ou Coral, ou whatever. Quando são só psicodélicos [abstraem o senso pop], é mais fodencial ainda, onde encerram tocando um jam duns doze minutos [o show teve só cinco músicas]. Anton Newcombe é mesmo um farrapo, mesmo que agora ele saiba se aproveitar disso. Metade do show, parece que não podia se fumar no stage, algo assim. O fato é que saiu, foi lá fora, e voltou depois, com tudo parado. Um mítico doente. Que somado a Joel Gion, que fica só lá, com o pandeirinho, a costeleta, e sua bichice contumaz, o BJM é de fato o maior “podia dar certo” que nunca vai dar. [E os Dandy Warhols ein?]

Wu Tan Clan [Slam Tent]
Lotação esgotada. Não se podia entrar na tenda, e foi a única vez que isso aconteceu, pelo menos enquanto eu estava do lado de fora. Como PRESS, entrei. E demorou, atrasou, mixórdia. Mas quando a negada subiu ao palco e mandou “Protect Ya Neck”, uma nova ordem. A ordem branquela do rap. A gurizada estava enlouquecida. Pulava, dançava, jogava a mão pro alto. E o Clan, claro, domina a cena como poucos [não sei bem quantos estavam lá, com certeza RZA e Method Man]. Hip hop velha escolha, muita falação e etc. Teve bis, teve stage dive, tudo. Caso fosse possível um sexo entre “banda” e público, nasceriam vários mulatinhos naquela noite. Nessa história, fique claro que eu seria apenas um voyeur punheteiro. MANOW.

Biffy Clyro [Radio 1/NME]
Confesso que queria ver, meus tempos remotos de juventude falando alto. Só que com o tempo minha RANZINZICE dominou. Porque os guris são uns CABELUDO, tocando NU-METAL envergonhado [não me admira mais que estejam na Roadrunner agora], e com uma crowd constituída basicamente de PIÁS, e locais ainda. O baixista, além do cabelão, usa barba e é RUIVO, por Deus. O irmão dele, o vocal, tem 200 tatoos horrorosas [mais que a minha]. Certo que eu deveria ter visitado a mãe deles em Glasgow e levar boas doses de amor e carinho por ter parido tamanho desgosto.

Kings of Leon [Main Stage]
Ao contrário, os filhos tiraram as barbas [exceção ao batera, que deve ser feio]. Resumidamente, aquele show da banda em SP tá na minha lista de PIORES que já vi, mas por coincidência, ou não, essa “nova fase indie” melhorou demais os carinhas. Ao vivo mais ainda. Não parecem mais coelhos assustados, tem até um certo carisma, e aquele sotaque CAMPESTRE faz os escoceses os amarem. Inclusive, senti uma paz interior quando o filho do pastor lá mandou um ‘god bless you’ geral. Tô falando sério.

The Horrors [Scottish Water Future, vulgo, uma tendinha bem pequena]
Um abacaxi amarrado numa corda. E o vocalista do Horrors lança pra galera. Tocaram uns dois sons, entre eles “She’s the New Thing”, e o que sobrou do abacaxi foi arremessado de volta no palco. Bizarrice assim é o show do Horrors. Uma banda chinela e vagabunda, que é meio Ramones e meio Cramps, chupadaço e sem vergonha. Músicas rápidas e insanas e grudentas. E dançantes [dançar Horrors é o que há, anotem isso]. Adicione o visual de filme de horror B [ALÔ ALÔ Vicente Renner], e a banda é uma Top 5 performers do momento. Ao começar o hit “Sheena is a Parasite”, os manos tocavam enquanto o vocal tentava acertar com seu microfone aqueles globos de festa disco amarrados no teto. Numa hora, claro, ele acertou e despedaçou o troço, e a organização cortou o som. E acabou. Sem o grande hit da banda, e sem o abacaxi.

Interpol [Radio 1/NME]
Meninas, desculpem de antemão. Mas não ser bitolado por uma banda tem vantagens, vantagens que não vale pras bandas que eu sou bitolado. Adiante. O caso é que o guitarrista do Interpol é um baita BOLHA, que erra quase TODOS riffzinhos FÁCEIS da banda de forma crassa. Aquele baixão impetuoso, no show desaparece [alguém ali era surdo pra não perceber a falta do baixo: ou eu, ou o cara do bigode]. O que sobra pro Interpol a alcunha de medíocre, de uma péssima presença ao vivo. E não é porque são paradões, ou porque tudo é muito depressivo. Não, isso é ó que se espera do Interpol. O problema é realmente tocarem mal. Exceção, talvez, ao galã Paul Banks, que não se mixa no vozeirão impostado e na pose blasé [cagar pra tudo e todos é um método vignolístico de carisma]. Não fossem legais [algumas] músicas da banda, jogaria até uns tomates, por tamanha falta de competência. Ou isso, ou na verdade não havia tomates.

Queens of the Stone Age [King Tut’s Wah Wah]
Um encerramento digno de T in the Park. Lembro que começou com “Monsters in the Parasol”, depois teve “Mexicola”, e lembro que depois [na verdade durante também] foi um pogo atrás do outro, e moshs, e cotoveladas. E é isso gurizada. Tenta imaginar aí um som altíssimo na orelha, com uma banda como o Qotsa a QUINZE METROS [era uma tenda, manja?] tocando “Go with the Flow”, “No One Knows”, “In My Head”, “Sick Sick Sick”. Tenta, mas só tenta, imaginar o que se passa quando “Feel Good Hit of the Summer” é tocada, com Homme tirando onda, cantando o refrão a capela como se fosse uma love song ou algo do tipo. Tenta aludir que Mark Lanegan tinha tocado à tarde com os Soulsavers, e portanto, estava ali pra juntar-se a banda e cantar “Song for the Dead”, o momento máximo de qualquer vida, embora “Misfit Love” [do disco novo] tenha sido meio TÂNTRICO também, e o termo vale porque foi talvez a maior punheta-rock que já vi ao vivo, e foi [mais sexo] muito foda. Foi uma hora e dez minutos, numa tenda, onde só pude berrar e tentar ficar vivo. Consegui, e agora estou aqui não relatando o show, mas efetivamente jogando na cara de vocês, ralé, de ter assistido ao Qotsa. Aquele careca não faz a mínima falta no fim das contas, isso é a maior balela já inventada. Quando verem, saberão. Talvez não. HWSUAMIASJDHGDGJSSJJS. Ralé.

Domingo: portanto, não vi
Snow Patrol, Scissor Sisters, The Gossip, Mika, Maximo Park, Kasabian, Ocean Colour Scene, Jet, Editors, Badly Drawn Boy, Air, Damien Rice [fala sério], Tori Amos, The Maccabbees, The Fratellis, Josh Wink, Pipettes, Sunshine Underground.

Quando saí da tenda, às 22h50 do domingo, fazia um friozinho e minha camisa, calça e cabelo estavam empapados de suor. Com toda aquela cerveja quente tomada, achar os ônibus foi difícil desta vez. Ao chegar no centrão, ainda deu pra fazer uma patifaria. Mas isso logicamente não contarei, mesmo que implorem. Um grande abraço.

F.I.M

postado por: mim 8:07 PM




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